Notas

Como a urna eletrônica ajudou Alckmin em 1998

ERA 1998 E O GOVERNADOR de São Paulo, Mário Covas (PSDB), disputava a reeleição. As pesquisas do Datafolha indicavam Paulo Maluf disparado na liderança. Os demais candidatos, Covas inclusive, se engalfinhavam pela outra vaga no segundo turno – uma vitória quase certa dada a grande rejeição a Maluf.

O ex-prefeito de Osasco Francisco Rossi (então no PDT) chegara a empatar com Maluf nas pesquisas, mas estava em trajetória descendente e chegou aos 18% das intenções de voto em 2 de outubro, véspera da eleição. Covas vinha patinando no patamar dos 17%. Marta Suplicy (ainda no PT) ganhou fôlego na reta final e subiu para 15%. E Orestes Quércia (PMDB) vinha aí – bem longe, nos 6%.

Na margem de erro de 2 pontos porcentuais, portanto, Rossi, Covas e Marta estavam triplamente empatados.

E aí as coisas ficam interessantes.

1998 foi a primeira eleição em que todo o eleitorado do Estado de São Paulo iria usar a urna eletrônica. O primeiro uso delas foi em algumas cidades nas eleições municipais de 1996 – ao contrário do Enem de Haddad, a mudança não veio de uma tacada só em todo o País.

Ou seja, pela primeira vez era fundamental para todos os paulistas conhecer o número do candidato. O nome não estaria ali na cédula. E isso fazia toda a diferença. O Datafolha contou que só 37% dos eleitores de Rossi conheciam seu número, contra 56% dos de Covas e 65% dos de Marta (a qualidade do branding do PT sempre foi superior).

A Folha noticiou corretamente os resultados da pesquisa do instituto pertencente ao seu grupo empresarial: havia empate triplo. Estadão e Jornal Nacional, porém, noticiaram uma disputa pelo voto útil entre Rossi e Covas, ignorando Marta.

Foi um erro, já que, na urna eletrônica, Marta acabou superando Rossi em quase 900 000 votos. Covas, por sua vez, teve uma vantagem muito pequena em relação a Marta, 74 000 votos, ou menos de 0,5% dos votos válidos.

O jornalista José Roberto de Toledo acredita que o erro de divulgação por parte da imprensa contribuiu para o voto útil em Covas, já que o eleitorado queria evitar um segundo turno com Maluf e Rossi, candidatos semelhantes. Esse erro teria tirado Marta do segundo turno. Toledo fez a declaração no curso online Como cobrir eleições sem errar, iniciativa do Centro Knight de Jornalismo nas Américas.

É difícil verificar essa conjectura, mas os dados do Datafolha de 1998 não deixam dúvida sobre o impacto da urna eletrônica, cuja adoção, naquele primeiro momento, prejudicou Rossi. Já Marta foi a mais beneficiada, por ter o número mais conhecido entre seus eleitores.

Mário Covas venceu o segundo turno e foi reeleito. O vice dele se chamava Geraldo Alckmin.

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Publicado por
Cedê Silva