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Trump e Putin: 4 itens na agenda da DR mais importante do mundo

OS PRESIDENTES Donald Trump e Vladimir Putin se encontraram nesta segunda-feira (16) em Helsinque, cidade que já abrigou várias reuniões entre os líderes dos dois países. Foi a primeira vez em que Trump e Putin se encontraram fora de uma cúpula multilateral (como o G20). Naturalmente a atenção da imprensa se concentrou em perguntas sobre a investigação de interferência russa nas eleições de 2016. Na sexta-feira (13), às vésperas do encontro, o procurador especial Robert Mueller indiciou 12 espiões russos acusados de hackear o comitê do Partido Democrata, que organizava a campanha de Hillary Clinton.

Ambos Trump e Putin responderam (ou se desviaram) a perguntas sobre a conspiração, mas é certo que, nas reuniões em privado, não perderam tempo discutindo um episódio de 20 meses atrás do qual, ao que consta, ambos saíram satisfeitos.

Em vez disso, devem ter se ocupado de questões muito difíceis no relacionamento entre Estados Unidos e Rússia, que permanece sendo a relação bilateral mais importante do mundo. Segundo a Stratfor, são quatro as pautas principais, e me parece ter havido progresso em apenas uma delas. Confira:

1. Ucrânia e sanções

Em 2014 a Rússia invadiu e ocupou a Crimeia, região da Ucrânia. A movimentação foi condenada pela Otan, e vários países ocidentais implementaram sanções econômicas contra o governo, indivíduos e empresas russas. A taxa de mortes e o número de violações de cessar-fogo na região aumentaram recentemente. Putin quer o fim das sanções mas também não quer largar a Crimeia. Não parece ter havido progresso nesta pauta.

2. Síria

A guerra que se arrasta desde 2011 na Síria é chamada “guerra civil”, mas na verdade as diferentes facções contam com apoio de vários governos estrangeiros. Segundo a Stratfor, Trump poderia oferecer retirar os soldados americanos da base de al-Tanf, na fronteira entre Síria e Iraque, e até retirar o apoio às Forças Democráticas da Síria. Em troca, Putin pressionaria Teerã a tirar ao menos parte de suas forças no país. A própria Stratfor considera tudo isso improvável e não me parece ter havido progresso em Helsinque sobre a Síria.

3. Escalada militar na Europa

Desde a invasão da Crimeia, vários países europeus aumentaram seus investimentos em defesa. A expansão da Otan (com o ingresso significativo de novos membros em 1999 e 2004) sempre foi algo que Putin não engoliu muito bem, e a tensão sobe no continente com os dois lados aumentando o tamanho e a frequência dos exercícios militares. Neste tópico os presidentes não parecem ter chegado a novo entendimento. Trump acaba de sair de uma reunião da Otan em Bruxelas na qual pediu para os aliados investirem 4% do PIB em defesa, acima da meta de 2% que a maioria dos membros ainda se esforça para cumprir.

4. Controle de armas nucleares

Estados Unidos e Rússia têm muito a discutir sobre armas nucleares. O tratado New Start, por exemplo, que limita o número de ogivas de cada país, expira em 2021. Washington e Moscou também já trocaram acusações de violações de um outro tratado, o INF (este sem data de validade). Ao que parece, foi justamente neste tópico que mais se avançou em Helsinque. Trump declarou que o grande número de armas nucleares é “uma força negativa”, e disse esperar que os dois países possam “fazer algo a respeito”.

Não é mau. Se é para haver qualquer progresso na DR mais importante do mundo, que comece pela maior ameaça existencial à aventura humana na Terra.

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Publicado por
Cedê Silva