A DELAÇÃO QUE ANTONIO PALOCCI acordou para a operação Lava Jato delineia como o poder subiu à cabeça de Lula. Como destacado pelo Estadão, o petista gozava da maior popularidade já medida no País. Poderia ter feito uso de bem tão valioso para trilhar um caminho virtuoso para o próprio partido. No entanto, teria percebido no momento uma oportunidade para tomar as rédeas da corrupção petista.
O episódio é citado por Palocci como a “cena mais chocante” de um presidente que “sucumbiu ao pior da política no melhor dos momentos do seu governo” e “marca uma mudança significativa” na forma como Lula interagia com a corrupção nos governos do PT. “Ele (Lula) sempre soube que tinha ilícito e sempre apoio as iniciativas de financiamento ilícito de campanha, mas no caso do pré-sal ele passou a ter uma atuação pessoal, direta”, afirmou Palocci, em uma das 63 vezes que deixou a carceragem da PF, em Curitiba, para colaborar.
O alvo do ainda presidente da República era o Pré-Sal. Segundo Palocci, Lula queria que o projeto de proporções faraônicas garantisse verba a “quatro ou cinco” campanhas do PT. Para tanto, os fundos de pensão das maiores estatais – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e da própria Petrobras – aparelhados pela sigla desde 2003, seriam a fonte. Sob pressão do Palácio do Planalto, capitalizaram a Sete Brasil, estatal nascida para o “projeto sondas”, iniciativa que prometia quarenta embarcações que perfuram poços de petróleo – havia menos de uma centena no mundo.
Ainda de acordo com Palocci, todos os envolvidos sabiam que descumpriam “critérios internos” dos fundos de pensão. E o que o trabalho resultava em propinas ao PT. Neste enredo, Lula conduziria o chicote: “Ele falava ‘quem foi eleito fui eu, ou eles cumprem o que eu quero que façam ou eu troco os presidentes’”.
Em 2016, a Sete Brasil foi à falência sem concluir uma única sonda. Até a redação deste texto, o prejuízo ocasionado por iniciativa tão desastrosa segue sendo calculado.