Opinião

Salles invoca espírito de Lula contra jornal alemão

O MINISTRO DO MEIO AMBIENTE, Ricardo Salles, não gostou de um artigo publicado na Deutsche Welle em português. Intitulado O projeto de Mefistófeles, o texto do correspondente Philipp Lichterbeck tem críticas à política ambiental do governo Bolsonaro, inclusive a comportamentos do próprio ministro. Vamos conferir um trecho:

“O novo ministro do Meio Ambiente é Ricardo Salles. Ele poderia ter sido originado na obra ‘1984′, de George Orwell, na qual o “Ministério da Paz” é responsável pela organização da guerra. Porque, no Brasil, o ministro não tem interesse em proteger o meio ambiente, e sim em explorá-lo. É interessante notar que ele também já foi condenado: por fraudar o processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, quando foi secretário estadual de São Paulo. 

Salles anunciou que vai fazer o Ibama entrar na linha. Ele escolheu um novo presidente do instituto. E, como que por milagre, o Ibama anulou a multa contra Jair Bolsonaro [por pescar ilegalmente em uma reserva natural].

Salles demitiu 21 superintendentes do Ibama. A justificativa: “Precisam ter um alinhamento conosco. É um cargo de confiança.” Isso é a língua da máfia. A tarefa do Ibama é proteger o meio ambiente dos brasileiros, mas não a obediência ao senhor Salles e seus interesses”.

O artigo é incisivo, mas não parece conter nenhum erro de informação. Se fosse o caso, certamente Salles o corrigiria. Em vez disso, publicou no Twitter nesta quarta-feira (6) uma verdadeira atrocidade: “Lamentável que um canal público alemão escreva isso do Brasil. Essa sua descrição se parece mais com o que a própria Alemanha fez com as crianças judias e tantos outros milhões de torturados e mortos em seus campos de concentração…”.

Sim, é isso mesmo. O ministro comparou um artigo crítico a ele ao nazismo. E fez mais: pediu censura. Escreveu: “o DW é um canal público, não pode escrever essas coisas do Brasil.”

A atitude de Salles lembra muito uma ação de Lula em seu primeiro mandato. O então correspondente Larry Rohter, do New York Times, publicou em maio de 2004 a reportagem Hábito de bebericar do presidente vira preocupação nacional. Como consequência, o governo Lula revogou o visto do jornalista. Ele só não foi expulso porque estava fora do Brasil naquela data. Advogados de Rohter redigiram uma carta ao então Presidente e o governo Lula revogou o cancelamento do visto. Rohter ficou no cargo até 2007.

O bolsonarismo dá a cada a dia mais provas de ser um petismo com outras cores.

Leia também:

Ministro do Meio Ambiente não conhecia Fundo Amazônia, de R$ 3 bilhões

Compartilhar
Publicado por
Cedê Silva