A PRISÃO DE CESARE BATTISTI neste sábado (12) na Bolívia foi a primeira vitória do governo Bolsonaro. Se o terrorista fugiu do encalço da Polícia Federal no fim do ano passado, a inteligência brasileira ajudou os bolivianos e italianos a localizarem Battisti em Santa Cruz de la Sierra.
Além disso, independemente de méritos, a notícia sobre Battisti dominou o domingo, afogando a repercussão sobre a presença de Fabrício Queiroz no caríssimo Hospital Albert Einstein, por exemplo, bem como a constante bateção de cabeça e recuos nos vários ministérios.
O episódio poderia ter servido para os ministros e assessores de Bolsonaro praticarem o alinhamento de discurso pela primeira vez. Mas não foi isso que aconteceu.
O assessor Especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, foi o primeiro integrante do governo a se manifestar sobre o assunto. Ainda na madrugada de domingo, twittou: “O terrorista italiano Cesare Battisti foi preso na Bolívia esta noite e em breve será trazido para o Brasil, de onde provavelmente será levado até a Itália para que ele possa cumprir pena perpétua, de acordo com a decisão da justiça italiana“.
Observem que o “provavelmente” está no destino final (Itália). Era dado como certo que Battisti voltaria ao Brasil.
Na manhã de domingo, o chanceler “Arnesto” foi mais cuidadoso: “Diante da detenção de Cesare Battisti pela Interpol na Bolívia, o Ministério da Justiça e o Itamaraty estão tomando todas as providências necessárias, em cooperação com os governos da Bolívia e da Itália, para cumprir a extradição de Battisti e entregá-lo às autoridades italianas”. As palavras “extradição” e o nome dos ministérios denunciam a intenção de que Battisti ainda faria uma escala no Brasil. Com boa-vontade, contudo, entende-se que o governo tomaria “providências necessárias” e o importante mesmo era o terrorista chegar na Itália. Era uma nota conjunta dos ministérios das Relações Exteriores e Justiça.
Mas até aí essas publicações foram antes da reunião no Alvorada. Elas revelam uma necessidade de integrantes do governo se comunicarem publicamente, em especial para os fãs, antes de decisões finais. Mas nada estava realmente acertado.
Só que aí veio o General Heleno.
Heleno participou de reunião no Alvorada com o presidente Bolsonaro e os ministros Sergio Moro e “Arnesto”. O encontro acabou ao meio-dia. E DEPOIS da reunião, o ministro-chefe do GSI ainda estava com a ideia de que Battisti faria escala no Brasil. Citando reportagem da Folha:
“Ainda não está definido exatamente (se Battisti virá ao Brasil), mas, em princípio, sim. Ele passa pelo Brasil”, disse Heleno, após reunião no Palácio do Alvorada (…) Heleno respondeu que falta “só acertar o manifesto de voo” para que Battisti seja transferido ao Brasil. “É um avião da Polícia Federal nosso que está indo buscar”, disse. “Ele para no Brasil como se fosse uma escala. Não é escala porque terá que trocar de avião (para ir para a Itália)”, explicou (…) Ele (Bolsonaro) não quer capitalizar nada. Ele quer colocar para fora um bandido”, disse o ministro do GSI” (…) O governo recebeu informações preliminares de que não haveria acordo de extradição entre Bolívia e Itália, por exemplo. Heleno não soube responder se há acordo entre esses países. Ele também disse não saber se a Bolívia poderia entregar Battisti diretamente para os italianos”.
Ou seja: mesmo depois da reunião no Alvorada, ainda não estava certo o que ocorreria com Battisti. E será que ninguém no Palácio lembrou-se de telefonar para o governo da Itália? Ao menos mandar um WhatsApp para o embaixador em Brasília?
Na tarde de domingo, o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, publicou no Facebook que Battisti iria diretamente de Santa Cruz para Roma. Não houve propriamente extradição. Battisti foi expulso da Bolívia. Mesmo assim, a Polícia Federal chegou a mandar um avião pequeno de Mato Grosso do Sul para a Bolívia.
O governo, que poderia ter dado um show de comunicação apresentando um discurso unificado e que dissesse exatamente o que iria acontecer, continuou na bateção de cabeça. Bem que disseram que seria uma administração heavy metal.
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