HÁ QUEM ARRISQUE que Jair Bolsonaro já atingiu um teto e não deve concluir o primeiro turno com mais votos do que os somados até o primeiro semestre de 2018. Mas, ainda que seja verdade, trata-se de um fenômeno a ser compreendido. A maioria dos institutos concorda que, de uma forma geral, o candidato do PSL é o preferido de um quinto dos eleitores, ou um terço dos eleitores decididos. Restando a questão: como um deputado federal com tão poucos feitos atraiu tanta atenção?
A resposta talvez esteja noutra pergunta, uma que o próprio Bolsonaro se acostumou a repetir nos palanques em que sobe: “Xingam-me de tudo, só não me xingam do quê?” É quando a plateia, em uníssono, responde: “Corrupto!”
Um ano antes de vencer a primeira disputa presidencial, o PT surgiu nas telas de todo o país numa propaganda um tanto grotesca. Com trilha sonora de filme de terror, mostrava ratos saindo de uma parede. Aos poucos, um violão dedilhado passava a servir de plano de fundo para roedores que se alimentavam de um tecido verde e amarelo. No que a câmera se distanciava, percebe-se que de fato era a bandeira do Brasil sendo tragada para o buraco da primeira cena. Vinha, então, a locução:
“Ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil. Xô, corrupção! Uma campanha do PT e do povo brasileiro.”
Quatro anos depois, quando o mundo ficou a par do mensalão, o petismo largou a bandeira da ética, agarrando-se à da governabilidade. Se o apoio do PMDB era dissimulado, passou a ser explícito e atingiu o ápice na escolha de Michel Temer para vice de Dilma Rousseff em 2010.
Quanto à oposição, ciente do telhado de vidro e do fraco apoio popular, assistia a tudo de camarote, por vezes salivando pelo “discurso social” cantado do Palácio do Planalto.
Bolsonaro é o personagem que, na década seguinte, percebe que a bandeira seguia esquecida no chão. Toda a cena televisionada em 2001, subtraída a assinatura partidária ao final, cairia como uma luva ao presidenciável de 2018. O lema segue irretocável e necessário: ou o brasileiro acaba com a corrupção, ou a corrupção acaba com o Brasil.
E a questão não é nem se Bolsonaro é o presidenciável mais indicado a hastear tal bandeira, mas se é o único. Além dele, só abordam o tema poucos nanicos que ainda não conseguiram sair do zero na margem de erro.
Parece reducionismo, mas o combate à corrupção serve de filtro para toda uma gama de ações vitais ao país, como o combate à violência, à injustiça, ao mau uso da estrutura estatal e, principalmente, ao desrespeito ao cidadão brasileiro, que abre mão de 40% de tudo o que produz em benefício de uma máquina que não justifica o investimento.
Em outras palavras, Bolsonaro acumulou votos porque não enfrentou uma concorrência minimamente convincente. E só perderá tais votos quanto esta opção surgir.