É possível afirma que, de uma maneira geral, foi correto o discurso de Jair Bolsonaro durante a diplomação. Nos dez minutos de fala, uma seleção dos melhores momentos da própria agenda, claro, sem qualquer menção às bizarrices que tanto assustam não só o Brasil, mas o mundo. Todavia, um trecho causou algum incômodo à imprensa. Porque de fato fazia referência à imprensa.
“Senhoras e senhores, vivenciamos um novo tempo. As eleições de outubro revelaram uma realidade distinta das práticas do passado. O poder popular não precisa mais de intermediação.”
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Mas a polêmica perde corpo ao se considerar que a frase em destaque de fato retrata uma realidade que vinha se moldando nos dez anos anteriores. Começou em 2008 com Barack Obama, o opositor que conseguiu derrotar o candidato do governo explorando todos os canais que a internet disponibilizava. Em 2016, a prática foi potencializada por Donald Trump, que abriu mão de qualquer diálogo com a imprensa para manter um contato direto com o eleitor.
O Brasil experimentou efeito semelhante nos meses seguintes. Enquanto o jornalismo se esforçava para desmerecer o trabalho do novo prefeito de São Paulo, João Doria conseguiu manter uma certa popularidade driblando críticas com vídeos e mais vídeos nas redes sociais. Na mesma época, Bolsonaro iniciava a corrida que o faria ser diplomado no TSE.
O tempo passou na janela, e só quem contava com o tempo de TV não viu. Cabe à mídia tradicional reconhecer o rebaixamento: se antes enfrentava a concorrência de uma segunda tela, recentemente foi convertida pelos consumidores em segunda tela.
Isso não precisa descambar no fim da imprensa, da TV, ou numa declaração de guerra que ponha jornalistas contra influenciadores digitais. Até porque a atual primeira tela ainda se alimenta da segunda, e depende desta para ter o que contar. A relação não demanda um confronto, mas uma parceria. Só o respeito mútuo manterá ambos os lados ativos. E é bom que o exemplo parte da ala mais tradicional. Seria um gesto humilde de quem vem acumulando derrotas.