Olavo: ‘massa popular’ deve ‘esmagar poderes intermediários’

Ivan, o Terrível: o modelo que Olavo quer para Bolsonaro e as "massa popular".

Ivan, o Terrível: o modelo que Olavo quer para Bolsonaro e as “massas populares”.

Tela: Ilya Repin

DESDE OS PROTESTOS pelo impeachment de Dilma, as publicações de Olavo de Carvalho na internet vêm se distanciando daquilo que escreve em seus livros. Com a chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto, esse processo se acelerou muito, e ganhou ainda mais ímpeto após Olavo vencer, sem prever, uma queda-de-braço por influência no MEC.

Olavo foi contra o impeachment de Dilma, preferindo que “o povo”, de alguma forma, tomasse o poder e demitisse todo o STF. Ele nunca esclareceu quais “meios de ação” (termo que ele adora usar em suas vídeo-aulas) estavam disponíveis para essa tarefa.

Nesta segunda-feira (25), Olavo publicou sem rodeios a meta autocrática que pretende para o governo:

“O mecanismo político mais eficiente e quase infalível já registrado na História — por exemplo, na origem do reino português ou no triunfo de Ivan o Terrível — é a aliança do governante com a massa popular para esmagar os poderes intermediários corruptos e aproveitadores. Deus queira que o Bolsonaro entenda ser essa a sua grande oportunidade”.

É uma metáfora curiosa. Ivan, o Terrível (1530-1584), matou o próprio filho mais velho, Ivan Ivanovich. O que Olavo está sugerindo?

Olavo é líder de um movimento da ala ‘carlista’ do governo que oferece um verniz intelectual a uma tese essencialmente golpista: Bolsonaro sozinho foi eleito e representa a vontade do povo; os integrantes do Congresso são apenas despachantes que lá brotaram por abiogênese. Qualquer tentativa de diálogo com eles é compactuar com corrupção – ideia amplamente defendida por perfis carlistas no Twitter para os quais a higiene manda não oferecer links.

Nesse maravilhoso mundo, se a reforma da Previdência não passar, será culpa inteiramente do Congresso e do cara-de-pastel do Rodrigo Maia. Ao Presidente cabe ficar twittando no Planalto.

Um dos simpatizantes dessa tese é o deputado Luis Bragança (PSL-SP), que escreveu: “fazer reforma com corruptos no comando do sistema é a mesma coisa que não fazer reforma alguma”. Talvez o deputado queira se espelhar em um líder brasileiro que, como ele, quedou-se insatisfeito com o sistema e resolveu dar uma sacudida: Marechal Deodoro. Que tal, deputado? Porque do jeito que a coisa anda, serão os Bolsonaro o mais próximo que o Brasil terá de uma nova monarquia, com a situação gloriosa de um chanceler paralelo que é responsável por fiscalizar o próprio trabalho!

Se a tese olavista prevalecer, o Brasil não caminha para se parecer com a Rússia do século XVI. Passará, isso sim, por uma tentativa de fujimorização.

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