A CENA EM QUE O VILÃO se deixa barbear para mostrar dominância já é um clichê da ficção. Em Game of Thrones, Ramsay Snow tortura e castra Theon Greyjoy – e depois lhe manda fazer sua barba. Theon, tendo a navalha na mão, não mata seu algoz. É a suprema humilhação.
Vilões que se deixam barbear pelos adversários também aparecem em Luke Cage e Westworld.
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Na porta do gabinete do deputado federal Jair Bolsonaro havia um pequeno cartaz onde estava escrito: “Desaparecidos do Araguaia – Quem procura (…) é (…)”. No lugar das reticências, as imagens de um osso e de um cachorro. Mas essas palavras não estavam escritas.
No dia 6 de julho, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicou um tweet com trechos de notícias de 2014 a respeito de uma possível cooperação do Fundo Amazônia na Bacia do Congo. E escreveu: “sem comentários”. Nem poderia comentar nada, porque a tal cooperação com o Congo nunca aconteceu. Mas muitos dos seguidores de Salles foram induzidos a pensar que sim.
Nesta segunda (29), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou um vídeo com sua cadelinha Capitu. Ele escreveu: “Com paciência, boa argumentação e uma pitada de carinho, sempre há espaço para atingir nossos objetivos através do diálogo. Pelo menos com a Capitu tem funcionado”. O que Weintraub não escreveu é que quer como interlocutores apenas os que lhes prestem fidelidade canina.
Entre sua legião de fãs cada vez menor e mais fanática, Bolsonaro se tornou famoso por “falar o que pensa”. É uma mentira. Já se esquivou de tomar posição a respeito de muitos assuntos. Quando deputado, faltou às votações sobre o Uber, a terceirização e a LDO, entre outras. Em tese representante do Rio de Janeiro e portador da bandeira da segurança pública, nunca condenou as milícias no estado. Como Presidente, foi e voltou em uma crescente lista de decisões.
O Presidente disse nesta terça (30) estar com vergonha da Folha de S.Paulo, porque seu repórter fez o trabalho que lhe cabe, fazendo perguntas ao porta-voz. Já Bolsonaro cancelou uma reunião com o chanceler da França para ir cortar o cabelo. Com transmissão ao vivo.
Bolsonaro é ainda pior do que um líder que fala o que pensa, desrespeitando as responsabilidades do cargo. É cada vez mais o líder de um governo do indizível.