Michel Temer disse para a Época que votou em Jair Bolsonaro no segundo turno:
“Eu votei em quem não falou mal de meu governo, não é?”
Não que fosse uma novidade. De certa forma, Fernando Collor, Lula e Dilma Rousseff venceram corridas presidenciais vendendo-se aos eleitores como personagens alheios “a tudo isso que está aí“. Mas a ascensão de Donald Trump solidificou junto a analistas políticos que, mais do que nunca, o momento pertencia a candidatos antissistema.
Ao que tudo indica, Jair Bolsonaro percebeu o fenômeno antes, ainda ao final de 2014. E a todo tempo atuou para se descolar de um centro ao qual pertencera por 24 anos.
Ironicamente, quando o segundo turno veio, a opção “anti-establishment” foi escolhida pelo presidente da República, ou a pessoa que coordena o “establishment” no Brasil. A revista Época apenas confirmou o que era possível fisgar da postura do próprio governo Temer, em constante diálogo com o candidato do PSL, e numa distância saudável da opção oferecida pelo PT.
É verdade, entretanto, que o governo Bolsonaro está disposto a fazer grandes mudanças. Se isso não denotar incoerência de Michel Temer, talvez confirme que o próprio sistema anda de saco cheio de si mesmo.