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O bolsonarismo reservou ao Mais Médicos o discurso mais hipócrita

A hipocrisia do bolsonarismo em toda a crise envolvendo o Mais Médicos salta aos olhos. Quem demanda “excludente de ilicitude” pouco se importa com direitos humanos: literalmente quer que policiais saiam impunes caso vitimem algum inocente. Da mesma forma, quem usou o voto no processo de impeachment para louvar um torturador enquanto celebrava a desgraça de uma torturada pouco se importa com democracia. Ainda mais quando exploraria a sabatina no Jornal Nacional para tratar como democrático o período em que esse horror se deu.

A revolta da classe médica é também digna de destaque. Os editais priorizavam brasileiros. Mesmo assim, e após dois anos de esforços do governo Temer mirando uma participação maior de brasileiros, praticamente metade das vagas do programa seguiam ocupadas por cubanos. Porque simplesmente não havia quem as quisesse.

Por fim, a direita como um todo. Mente para si mesma que hoje protagoniza um fenômeno popular. Não é verdade. Qualquer gráfico delineia que se trata de uma manifestação da elite, que parte da classe média para cima. Antes mesmo de assumir o poder, aplaude uma postura que prejudica diretamente o outro lado. E outro lado não é a esquerda, é o de baixo, da classe média para baixo. Que vive em cidades que carecem de estrutura mínima de saúde. Que terão ainda menos condições para atenderem 28 milhões dos brasileiros menos favorecidos.

É muita irresponsabilidade. É muita insensibilidade. É se importar de menos justamente com quem mais merece um mínimo de atenção do poder público.

Os valores reclamados nas condições impostas a Cuba são nobres, é verdade. Mas há formas e formas de se resolver o problema. Ao escolheram a mais autoritária delas, os neogovernistas soam apenas birrentos.

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Publicado por
Marlos Ápyus