A jogada de Nancy Pelosi para enfrentar Donald Trump

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi: usando a fome de Trump pelas câmeras contra ele. Foto: Ryan Saavedra

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi: lembrando a Trump qual artigo da Constituição é o 1º e qual vem em 2º.

Foto: Ryan Saavedra

A PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, Nancy Pelosi, parece ter virado o jogo contra Donald Trump no debate sobre o Orçamento.

A paralisação do governo começou em 22 de dezembro e é a mais longa da história. Donald Trump quer dinheiro para construir um muro na fronteira com o México, mas a maioria democrata na Câmara não cede. Trump também não, e tem feito de tudo para jogar a culpa do fechamento dos serviços na oposição. Como muitos funcionários na Casa Branca estão sem receber e sem trabalhar, o Presidente pagou do próprio bolso por um banquete de hambúrgueres em recepção nesta segunda-feira (14).

Pois bem. Tradicionalmente, no mês de janeiro o Presidente dos Estados Unidos faz o Estado da União. Nos tempos atuais, é um discurso no Congresso, televisionado e ao vivo, no qual o Líder do Mundo Livre anuncia sua agenda, comemora vitórias, faz piadinhas e celebra os feitos de cidadãos americanos comuns. É um espetáculo, e muito divertido de se ver.

Nancy Pelosi informou a Trump que, por preocupação com a segurança, o Estado da União não poderá ser feito em 29 de janeiro, a menos que o governo reabra (afinal, muitos funcionários não podem trabalhar). Sugeriu a Trump que faça o discurso em outra data ou envie o Estado da União por escrito.

A jogada é perfeitamente legítima. O Estado da União é uma obrigação constitucional e foi entregue por escrito ininterruptamente por mais de 100 anos – mesmo porque não havia televisão no século XIX. Em 1913 Woodrow Wilson restabeleceu a prática de visitar o Congresso, antes usada apenas pelos dois primeiros Presidentes. Mesmo depois de Wilson, nem todo ano o Presidente visitou o Congresso. O caso mais recente é o de 1981, quando Jimmy Carter, já de saída da Casa Branca por ter perdido a reeleição para Ronald Reagan, mandou uma mensagem escrita.

Além disso, quem convida o Presidente é o Congresso, que não é a casa dele.

Isso é intolerável para Trump, fanático por câmeras e consumidor voraz da cobertura televisiva dele próprio. Nancy Pelosi ainda jogou sal na ferida; em entrevista à CNN, provocou: “ele pode fazê-lo do Salão Oval se quiser”.

Se Trump ainda não leu, este é um bom momento para conferir a Constituição dos Estados Unidos. E constatar qual artigo é o primeiro e qual vem em segundo.

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