Com base no que conhecia do LinkedIn do indicado à Apex, Ernesto Araújo remeteu a Jair Bolsonaro a indicação de Alexandro Carreiro. A iniciativa amadora era, sem dúvida, um notícia que merecia ser reportada à opinião pública, afinal, prometeram rigor técnico nas escolhas do novo governo, todavia, entregaram gestos para lá de políticos.
O episódio não reverberou tanto, mas findou voltando com a demissão do presidente da Agência Brasileira de Promoção das Exportações – que nem domínio da língua inglesa tinha.
Em situações semelhantes, a militância governista costuma neutralizar crises do tipo. E de uma forma pouco comum: criando falsas manchetes ainda mais absurdas. No caso em questão, a false flag poderia ser algo como “Ernesto Araújo indica à Apex ator pornô que conhecera no XVideos“. Uma vez formulada, seria distribuída por intermédio de perfis que se fazem passar por jornais ou jornalistas reais.
Para tanto, copiam o nome, a imagem do avatar, a foto de capa e até mesmo a linguagem. Trocam, todavia, algo quase imperceptível, como o “L minúsculo” pelo “i maiúsculo”. Ludibriando o leitor, ainda acrescentam o emoji de “ciclone”, já que a imagem se assemelha ao selo de verificação da rede. Por fim, alegam na descrição que se trataria de uma “sátira” – é como advogados sugerem que ajam para que a conta não caia, muito menos finde em prejuízo na Justiça.
Numa tela minúscula, o público não consegue distinguir “folha” de “foIha”. Por ser um governo dado a bizarrices como a distribuição de cargo com base no que jogam no LinkedIn, a armadilha convence. Desta forma, se a manchete diz que recorreram agora a um site de “vídeos adultos”, o leitor se escandaliza e, acreditando vir de uma fonte confiável, compartilha a desinformação .
Como último ato da “loucura com método”, no que alguém cai na armadilha, é atacado por toda uma rede de milicianos digitais. Que fazem um inferno da reputação da vítima, causando um estrago que talvez jamais seja revertido.
Formadores de opinião críticos ao presidente da República são o alvo preferencial da Máquina Bolsomínica de Moer Reputações. Ciro Gomes, por exemplo, reverberou mentiras do tipo em entrevista à GloboNews. Mas sufoco ainda maior passou Miriam Leitão, que não percebera a origem falsa de uma notícia envolvendo a jornalista Patricia Campos Mello. A dupla agiu assim não por ser composta de mentirosos, mas de vítimas de um golpe, de uma falsidade ideológica, de um estelionato.
Humor é algo bem diferente disso.
Principalmente porque o objetivo da militância não é fazer graça, mas proteger um governo escandalosamente amador. Dentro de uma agenda explícita de combate à liberdade de imprensa. E partindo de um grupo com apreço minúsculo pela democracia.
Isso, sim, é censura. E do pior tipo, pois se origina no Estado.
Humoristas que endossam a cilada não percebem a má-fé no uso da própria ferramenta de trabalho. E que estes abusos tornarão cada vez mais difícil o exercício dos verdadeiros comediantes. Quando tarde demais, reclamarão que estão sendo censurados – alguns já reclamam.
Mais complicado ainda, contudo, é perceber um grupo minoritário na própria imprensa incendiando o linchamento virtual. Mesmo quem já foi alvo de falsidade semelhante, e não descansou enquanto não conseguiu a suspensão do canal pirata. Mas, por simpatizar com o governo, achou que cabia tripudiar do sufoco vivido pelos colegas de profissão – o que é nada menos do que lamentável.
Com atraso de meses, já que a prática precede o início das eleições de 2018, a rede social finalmente começou a tomar atitudes contra o abuso aqui detalhado. E excluiu de lá um número ainda desconhecido de estelionatários.