EM AGOSTO DE 2018, a Unicef lançou o Pobreza na Infância e na Adolescência, estudo que delineou uma realidade muito mais preocupante que a já conhecida. Por ele, descobriu-se que 61% das crianças brasileiras viviam na pobreza. Para se chegar a essa informação, foi necessário observar não só a renda da população, mas de quais direitos ela goza. A imprensa tradicional, contudo, não deu o devido destaque a um detalhe importante: os dados estudados eram de 2015, o último ano do governo Dilma Rousseff.
O governismo de então havia se acostumado a falar em “contabilidade criativa”, uma forma de mascarar a realidade trabalhando apenas os pontos que contavam para as metas a serem batidas. O vício foi duramente atacado durante o processo de impeachment que derrubou a petista. Mas não se restringia apenas a pedaladas fiscais. E, ao que tudo indica, a Unicef finalmente percebeu isso.
Conforme detalhado no Correio Braziliense, o estudo de Jorge Paz e Carla Arévalo notou que, se 18 milhões de meninos e meninas eram afetados pela pobreza monetária, outros 14 milhões não tinham acesso aos direitos mais básicos. Por exemplo, a falta de saneamento básico era chaga na vida de 13,3 milhões de pequenos brasileiros.
Faltava educação para 8,8 milhões, água para 7,6 milhões, informação para 6,8 milhões, moradia para 5,9 milhões, e proteção contra o trabalho infantil a 2,5 milhões. A situação era pior para o negros, na zona rural, e no Norte e Nordeste do país.
O resultado contrasta com o discurso oficial de então, que vivia a propagar feitos justamente ao recorte destacado no parágrafo anterior.
E olha que a Unicef nem se dedicou a revisar os riscos que a população corria. Em 2017, por exemplo, quase 64 000 brasileiros foram mortos, e outros 82 000 desapareceram. Em uma década, mais de 200 000 nordestinos foram assassinados. São números que literalmente superam baixas de guerras históricas.