JAIR BOLSONARO gravou uma entrevista exclusiva à TV Record, do bispo Edir Macedo. Ela foi ao ar na noite desta quinta-feira (4), não por coincidência durante o debate da Globo com os demais candidatos à Presidência. A proposta era clara: usar o líder nas pesquisas, ausente do estúdio no Jacarepaguá por recomendação médica, para sabotar a rival. Deu parcialmente certo. A audiência do Jornal da Record cresceu em 40%. Mas o confronto na Globo cresceu 5% em relação a 2014 e superou com folga a emissora pentecostal. A manobra foi elogiada por vários fãs do ‘Mito’.
Na sexta-feira (28), Edir Macedo já havia declarado pela primeira vez seu apoio a Bolsonaro. O endosso pode explicar os mais recentes aumentos do candidato nas pesquisas, inclusive entre mulheres.
Muito bem. Agora, segundo a Folha, a ideia de Bolsonaro é ter na Record sua ‘Fox News’. Ambos capitão e bispo estão unidos na rivalidade às Organizações Globo. Exemplos recentes analisados aqui em A Agência: O Globo planejava adiar notícia contra Bolsonaro para ‘render mais’ (19 de agosto) e Direção da Globo ajuda Bolsonaro com ‘editorial ao vivo’ (4 de agosto). Diz a Folha: “há a expectativa de que, eleito presidente, [Bolsonaro] mude regras de distribuição de verba publicitária federal”.
É curioso que os fãs do ‘Mito’, zelosos pela sua integridade ideológica, celebrem tanto uma aliança com o dono da TV Record. Afinal, ele foi aliado de primeira hora do PT, também porque a rivalidade com a Globo os unia.
Em 2007, o então presidente Lula compareceu à inauguração da Record News, ao lado de Edir Macedo. Os dois apertaram juntos o botão que ativou o canal. O petista aproveitou para falar de ‘democratização’ da comunicação.
Na primeira posse de Dilma, em 1º de janeiro de 2011, Edir Macedo furou a fila reservada a representantes de países estrangeiros para cumprimentar Dilma, momento eternizado na foto que ilustra este post e cortado pela transmissão ao vivo da Globo.
A primeira entrevista de Dilma após a sua eleição em 2010 foi para a Record. Após a reeleição em 2014, também.
Hoje prefeito do Rio, Marcelo Crivella, sobrinho de Macedo, foi ministro da Pesca durante o primeiro mandato Dilma.
Sem querer instigar uma nova Guerra dos Trinta Anos, não deixa de ser curioso assistir à turma pró-Bolsonaro, que reúne monarquistas, católicos fervorosos e até gente do ‘Deus vult’ celebrando uma aliança com uma igreja neopentecostal que até pouco tempo atrás investiu tudo em uma aliança com os petistas.