Educação

Após expurgo, olavetes culpam militares por vídeos do Hino

O EXPURGO DE ALUNOS de Olavo de Carvalho do MEC – para usar as palavras de um dos próprios, Silvio Grimaldo – está tendo mais desdobramentos. Agora, o próprio Olavo e blogs alinhados ao governo Bolsonaro querem emplacar uma nova narrativa, segundo a qual a ideia de o ministério pedir às escolas que gravassem vídeos dos alunos cantando o Hino Nacional teria partido de militares. O próprio ministro Vélez Rodríguez desistiu da proposta dois dias depois de fazer o convite por e-mail a todas as escolas do Brasil (públicas e particulares).

Segundo um desses perfis, a ideia da carta de Vélez Rodríguez “não foi de ninguém ligado ao Olavo no MEC”. Já Silvio Grimaldo, que anunciou estar de saída do cargo, publicou o seguinte na madrugada de sábado (9):

“Muitas tretas por hoje. Chega. Mas amanhã contarei para vocês a verdadeira história da Carta do Hino, que o MEC enviou às escolas, e que a imprensa tem atribuído a mim e a outros alunos do Olavo. Pedi ao ministro e ao coronel Roquetti, que é quem toma decisões no MEC, que emitissem uma nota esclarecendo o fato e apontando os verdadeiros responsáveis pela trapalhada, salvando um pouco a dignidade e hombridade de ambos. Mas parece que honra militar é uma coisa que só fica da porta do quartel pra dentro e preferiram deixar correr a versão que justifica a desolavização do MEC”.

Até o começo da madrugada deste domingo (10), contudo, Grimaldo não publicara em seu Facebook mais detalhes da história.

O professor Olavo tentou a mesma linha. Escreveu, também no sábado (9):

Na quinta-feira (7), Olavo já havia falado de “vexame” e culpado militares:

Mas essa história simplesmente não se encaixa com o comportamento dos bolsonaristas nas últimas semanas. As fileiras de fãs de Carlos Bolsonaro aplaudiram em coro a iniciativa do ministro, e até fizeram campanha para subir no Twitter a hasthag #HinoNacionalSIM, ignorando completamente o fato de que a lei que obriga o Hino nas escolas é de 2009, e que os vários problemas do “convite” do MEC não tinham nada a ver com a música.

Tem mais. Em 26 de fevereiro, o próprio Olavo defendeu o “Hino nas escolas” e chamou de “inimigos da Constituição e do Brasil” quem se opusesse à ideia:

Além dessa história que simplesmente não se sustenta, a turma dos olavetes tenta emplacar mais duas linhas alternativas para justificar o expurgo. Em uma delas, segundo o próprio Olavo, o motivo seria impedir a chamada ‘Lava Jato da Educação’, uma proposta que nunca ficou clara. Em tese, ela afetaria os interesses de grandes grupos educacionais, como o Kroton (dono das marcas Anhanguera e Pitágoras). As ações dessas empresas de fato sofreram um baque em 15 de fevereiro, quando a ‘Lava Jato da Educação’ foi anunciada. Porém, não consta que nenhum dos olavetes exonerados seja algum Sherlock Holmes, ou que lhes caiba alguma tarefa que seria melhor desempenhada por policiais e promotores. E outra: sabendo das motivações para abrir uma investigação, o ministro Vélez Rodríguez vai agora simplesmente ficar quieto?

A Agência pediu uma entrevista a Silvio Grimaldo, mas ainda não teve resposta.

Finalmente, o expurgo já é explicado por uma terceira hipótese. Seria resultado de uma série de manobras de Ricardo Wagner Roquetti, coronel-aviador da reserva e diretor de programa da secretaria-executiva do MEC. Ele teria agido para expulsar os olavetes e aumentar a influência dos militares no ministério. Para apimentar as teorias da conspiração, Roquetti é amigo do diplomata Paulo Roberto de Almeida, desafeto do chanceler ‘Arnesto’ Araújo. O coronel-aviador agora já virou um novo Gustavo Bebianno: circulam no Twitter imagens pedindo sua cabeça pela traição que representaria ao projeto Bolsonaro.

E a gente achando que tinha se livrado da Rainha de Copas em 2016…

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Publicado por
Cedê Silva