EDUARDO BOLSONARO teve tratamento mais do que VIP em Washington: sentou-se em um dos sofás do Salão Oval da Casa Branca. Mais do que isso, esteve presente na reunião a portas fechadas entre os dois Presidentes, que em tese contaria com a presença apenas deles e dos intérpretes.
Eduardo tem um status absolutamente atípico para uma república. Em janeiro, viajou a Davos no avião presidencial, sem nenhum cargo que o justificasse. Agora, integrou a comitiva a Washington tendo oficialmente a missão de fiscalizar a política externa do próprio pai. E, sem qualquer cargo no Executivo, participou de uma reunião exclusivamente presidencial.
Há quem queira minimizar o episódio. Que seja. Vários fatos mostram a importância do que aconteceu.
Ernesto Araújo, por exemplo, não gostou de ler que o Itamaraty saiu rebaixado do episódio. Consta que o secretário Mike Pompeo, contraparte de Araújo, não estava em D.C., de modo que não era de se esperar que ‘Arnesto’ fosse ao Salão Oval. Muito bem. Isso é motivo para Araújo não ter ido, mas em hipótese alguma justifica a presença do filho do Presidente.
Trump enxergou em Eduardo uma espécie de Jared Kushner, o genro que lhe serve de conselheiro sênior. Kushner se reuniu com agentes russos durante a eleição de 2016 em busca de informações que pudessem comprometer a candidata Hillary Clinton. Por causa disso, Kushner foi interrogado por funcionários do Departamento de Justiça em novembro de 2017. O laço familiar oferece a Trump um grau de lealdade e deixa Kushner numa posição mais flexível do que a de um burocrata de carreira.
Jair Bolsonaro trabalha de forma semelhante. Deixou até seu filho Carlos despachando em Brasília, fazendo dele uma espécie de vice não-eleito. E conta agora com outro filho ‘fiscalizando’ seu trabalho na Câmara, algo com que Trump pode apenas sonhar (e um pesadelo para Montesquieu).
Não custa lembrar outro contato familiar. O irmão mais velho de Eduardo, Flavio, é amigo de Paulo Figueiredo, responsável por abrir o Trump Hotel no Rio em 2016. Depois da eleição de Trump, a empresa dele removeu a marca do Brasil. Neto do ex-presidente João Figueiredo, Paulo foi um dos alvos da Operação Circus Máximus, da Polícia Federal.
Tudo em família, como convém a uma monarquia.