Cancelamento da ‘Cúpula Conservadora’ mostra desorganização na campanha de Bolsonaro

Cancelamento da Cúpula Conservadora na última hora mostra falta de orientação. Foto: Gustavo Lima e Zeca Ribeiro/Agência Brasil

Cancelamento da Cúpula Conservadora na última hora mostra falta de orientação.

Foto: Gustavo Lima e Zeca Ribeiro/Agência Brasil

A CÚPULA CONSERVADORA das Américas, planejada para acontecer neste sábado (28) em Foz do Iguaçu, foi cancelada nesta quarta (25). O anúncio foi feito pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que prometeu que o evento foi adiado para 8 de dezembro, depois da eleição.

Organizada pelo próprio Eduardo e pelo também deputado federal Delegado Franschini (PSL-PR), a cúpula conservadora foi concebida como espécie de reação ao Foro de São Paulo, cujo 24º encontro ocorreu nos dias 15 a 17 em Havana. Sediar o evento em Foz do Iguaçu, em uma de nossas tríplices fronteiras, e no mesmo mês do Foro, seria especialmente simbólico. O professor Matias Spektor avaliou a cúpula como a mais ambiciosa iniciativa de política externa do candidato Jair Bolsonaro, embora enxergasse “uma chance real de a cúpula ficar esvaziada, sem personagens relevantes”. Acertou.

Segundo Eduardo, a transferência da cúpula “foi motivada pela posição do Presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, no sentido de que o evento poderia gerar questionamentos perante a Justiça Eleitoral”. A fala integra uma série de eventos recentes que mostram desorganização por parte da campanha Bolsonaro à Presidência:

1. O economista Paulo Guedes, em tese o candidato de Bolsonaro a ministro da Fazenda, constava no site da Cúpula Conservadora como palestrante. Depois seu nome sumiu.

2. O evento é oficialmente realização da Fundação Índigo de Políticas Públicas, ligada ao PSL. A fundação defendia a legalização da maconha. Sua página no Facebook está fora do ar e o site está sem conteúdo além de fotos.

3. A campanha de Bolsonaro busca candidatos a vice-presidente de forma bastante aberta. Sabemos pela imprensa de sua tentativa e fracasso em recrutar o General Heleno – segundo Janaina Paschoal, porque o partido dele não deixou. A própria Janaina foi cotada para vice, e depois comparou a “um soco na cara” a tentativa de elogio que recebeu de Eduardo. E, agora, a campanha abertamente busca ao mesmo tempo um príncipe e um astronauta. A pergunta é “quem você quer para vice” ou “o que você ser quando crescer?”.

4. Da forma como foi anunciado por Eduardo, fica a dúvida: por que Gustavo Bebianno, que é advogado, não foi ouvido antes? Teria recomendado não anunciar a Cúpula para essa data. Se foi esse o real motivo, por que Bebianno só foi ouvido agora?

5. Vários apoiadores dos Bolsonaro, que reservaram hotel e compraram passagens para Foz do Iguaçu neste fim de semana, reclamaram no Facebook de Eduardo. Dois depoimentos:

“Desculpa, irmão! Vocês ainda têm meu voto e admiração.Mas desmarcar um evento dessa magnitude com um tempo tão curto é falta de respeito com quem comprou passagem, reservou hotel, trocou folga no trabalho. Se os candidatos políticos não podem ter problemas com a Justiça Eleitoral, eles que abram mão de suas falas, mas os demais palestrantes deveriam sim falar, e o evento deveria acontecer”.

 

“Cancelar um evento dessa natureza, com mais de 2 mil pessoas confirmadas, num lugar onde as passagens são caras, às vésperas da sua realização, é realmente uma grande falta de respeito e seriedade. Muitas pessoas compraram suas passagens com antecedência. Ademais, uma Cúpula Conservadora como a que foi anunciada deveria ter objetivos mais altos, além da conjuntura eleitoral. Que dirão os palestrantes latino-americanos que estavam conformados dos seus anfitriões brasileiros. O evento poderia ser mantido se qualquer político que tenha condição de candidato abrisse mão da sua fala. Lamentável”.

 

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