DEU NO JORNAL NACIONAL: a Polícia Federal apreendeu mais de US$ 16 milhões em dinheiro e joias que estavam com o vice-presidente da Guiné Equatorial, que chegou nesta sexta-feira (14) ao Brasil. Havia nada menos que “US$ 1,5 milhão e R$ 55 mil em dinheiro, além de relógios avaliados em US$ 15 milhões”. O avião com a grana pousou no aeroporto de Viracopos.
O vice-presidente Teodoro Obiang Mangue, o “Teodorín”, é filho do ditador Teodoro Obiang, que está no poder desde 1979. As relações dos dois com o Brasil, em especial com Lula e o PT, vêm de longa data.
Teodorín foi o idealizador do patrocínio de R$ 10 milhões ao desfile da Beija-Flor em 2015, conforme O Globo publicou na época. Para o carnaval, uma comitiva de 40 autoridades guine-equatorianas ficou hospedada nos dois últimos andares do Copacabana Palace. Teodorín “teria desembolsado do caixa do governo cerca de R$ 77 mil por noite só para reservar as sete suítes da cobertura do hotel”. A reportagem de O Globo ainda informava:
“Documentos da polícia francesa, obtidos pelo GLOBO, revelam que Teodorín possui dois imóveis em São Paulo avaliados em US$ 180 milhões (R$ 510 milhões), além de um apartamento no Rio que vale cerca de US$ 40 milhões (R$ 113 milhões). Testemunhas ouvidas pela investigação afirmam que o filho do ditador teria ainda um imóvel em Salvador e uma ilha, que estariam em nome de empresas de fachada. Notas fiscais apreendidas mostram que a decoração de um dos imóveis de São Paulo, um triplex no bairro dos Jardins, custou 3 milhões de euros — o equivalente ao patrocínio dado à escola de samba”.
Então presidente, Lula visitou a Guiné Equatorial em 2010. Celso Amorim disse na época que a aproximação entre os dois países iria “ajudar que práticas que apreciamos sejam também adotadas pelos outros”.
O namoro, portanto, começou em outros carnavais. Já em 2013, reportagem também de O Globo informava:
“A Guiné Equatorial tem uma dívida de R$ 27 milhões (US$ 12 milhões) pendente há duas décadas com o Brasil. O governo Lula chegou a anunciar sua liquidação, com anistia, mas não concretizou. A presidente Dilma Rousseff decidiu renegociá-la com anistia.
No centro do interesse brasileiro estão petróleo e contratos de obras que fizeram o fluxo de comércio entre o Brasil e a Guiné Equatorial se multiplicar, saltando de US$ 3 milhões em 2003 para cerca de US$ 700 milhões [em 2012]. Nesse período, o ditador Obiang tornou-se um “caro amigo” para o ex-presidente Lula. E personagem relevante aos olhos da presidente Dilma, para quem “o engajamento com a África tem um sentido estratégico”.
(…) No final do ano passado, a Justiça francesa mandou prender Teodorín por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele recorreu, mas a decisão foi mantida. No último carnaval esteve em Salvador, mas não foi preso: a polícia alegou que não sabia de sua presença na capital baiana e nem mesmo do pedido de prisão na França”.
No mesmo 2013, Lula, já ex-presidente, viajou de novo à Guiné Equatorial. Telegrama do Itamaraty mostra que a então embaixadora do Brasil em Malabo, Eliana da Costa e Silva Puglia, testemunhou a conversa. Lula pediu ao governo Obiang que desse a obra de um aeroporto à Odebrecht. Desde outubro de 2016, Lula é réu por favorecer a Odebrecht na obtenção de financiamento do BNDES para realizar obras em Angola.
Todos esses elementos nos fazem perguntar o que o dinheiro e relógios de Teodorín vieram fazer no Brasil a 23 dias do 1º turno.
***
A Beija-Flor venceu o Carnaval de 2015. O carnavalesco Fran-Sérgio, integrante da escola, disse a O Globo que o patrocínio não veio do governo da Guiné Equatorial, mas “de empresas brasileiras que têm obras no país africano. Ele citou o nome das empreiteiras Queiroz Galvão e Odebrecht”.
Um trecho do samba-enredo:
“(…) O invasor singrou o mar
Partiu em busca de riquezas
E encontrou nesse lugar
Novas Índias, outras realezas
Destino trocado, Tratado se faz
Marejam os olhos dos ancestrais”.