Nesse clima de populismo generalizado, claro que cresce o antissemitismo. Veja nos Estados Unidos, é muito interessante. Ele cresce à esquerda, com a deslegitimação de Israel, mas ele também cresce entre os partidários de Trump. Trump declara ser amigo dos judeus, mas acredito que isso não é verdade. Acho que é um falso amigo. Penso que o beijo que ele dá nos judeus é um beijo perigoso.
Judeus dos EUA, do Brasil e da França erram ao crer que estão resguardados, diz filósofo francês
Esquerda e direita reconhecem o Holocausto como o maior erro da humanidade, e tal reconhecimento é positivo. Mas Bernard-Henri Lévy tenta alertar que o ódio a um povo pode driblar os sinais mais óbvios justo pela ciência desse erro.
Contra qualquer acusação de antissemitismo, a esquerda abraçou o antissionismo. Contudo, o filósofo francês foi claro à Folha de S.Paulo: “Criticar Israel no seu princípio de existência, dizer que Israel não tem legitimidade, dizer que o sionismo, que é um princípio legítimo, é um mau princípio, isso é antissemitismo. Nós podemos criticar Israel sem ser antissemitas, mas não podemos ser antissionistas sem ser antissemitas“.
Até por ser algo mais recente, é difícil compreender a postura da “alt right” em relação aos judeus. O apoio é tão caricato que demanda desconfiança. No Brasil, o emoji com a bandeira de Israel tem sido explorado como brasão do grupo. Mas soa mais uma “sinalização de ousadia” – um contraponto à “sinalização de virtude” esquerdista – do que respeito a um povo.
Em outras palavras, as garantias são frágeis.
Em paralelo, o que ainda resta de nazista no mundo não costuma pensar duas vezes antes de apoiar as opções mais à direita. Se não concordam em tudo, certamente há uma afinidade maior com o discurso conservador. E isso deveria ser motivo de preocupação do próprio conservadorismo. No entanto, este tem se esforçado na mera negação de sintoma tão perceptível a quem observa de fora – o que ocasionalmente soa conivência.
O preço da liberdade é a eterna vigilância e por isso os alertas de Lévy se fazem tão necessários. Mas isso o povo judeu costuma compreender melhor do que ninguém.