FALTANDO POUCO MAIS de dois meses para para o primeiro turno, o PT segue trabalhando para que o candidato do partido seja Lula, que cumpre pena de doze anos e um mês em Curitiba em decorrência das descobertas da operação Lava Jato. Conforme alertou Merval Pereira em O Globo, a insistência é tamanha que objetiva inserir a foto do ficha suja até mesmo na urna eletrônica. O que o petismo talvez não perceba, contudo, é como a estratégia pode favorecer aquele que é cantado pelo próprio partido como principal adversário: Jair Bolsonaro.
O efeito pode ser observado, por exemplo, no Datafolha que foi a campo em junho de 2018. No cenário em que a opção petista é Fernando Haddad, o candidato do PSL tem 19% contra 48% da soma de todos os oponentes, fatia que equivale a pouco mais de 28% dos votos válidos.
Com Lula na disputa, Bolsonaro não passa dos 17 pontos. Mas o TSE já decidiu em 2010 que votos em candidatos ficha suja são anulados. Portanto, ao incluir no bojo de nulos e indecisos aqueles reservados ao PT, os demais fichas limpas somam apenas 32 pontos percentuais, fazendo com que o militar da reserva se aproxime de 35% em votos válidos, e a distância para uma eventual vitória em primeiro turno seja reduzida em sete pontos.
Mas a aposta do petismo em muito se assemelha a um blefe. Que conta com uma sonora negativa do STF – e uma consequente histeria de uma imprensa amiga – para catapultar qualquer que seja a alternativa escolhida diretamente à disputa por uma vaga no segundo turno. Trata-se do mesmo efeito que Marina Silva e Silvio Santos viveram em eleições passadas, ainda que por motivos bem distintos e sem o principal objetivo ser atingido – o que não impediria a sigla de conquistar sobrevida nas eleições legislativas que correrão em paralelo em todo o país.