Notas

Ciro, em vez de enfrentar Haddad, elogia gravata

A ADESÃO A CIRO GOMES tem crescido entre muita gente inteligente de esquerda nas últimas semanas. Ciro é visto como mais qualificado, não representa a continuidade dos erros de Dilma, é mais independente de Lula e, principalmente, tem mais chances de derrotar Bolsonaro em um possível 2º turno.

Acontece que no debate na Globo na noite desta quinta-feira (4) o ex-ministro da Integração Nacional não mostrou qualquer vontade de tirar votos de Haddad, tarefa fundamental se quiser permanecer na corrida. Ao contrário, Ciro foi deferente ao poste de Lula nas duas oportunidades.

No segundo bloco, Haddad tinha de fazer uma pergunta sobre meio ambiente necessariamente a Ciro Gomes. Ao chegar ao centro do palco, Ciro já foi elogiando: “bonita gravata”.

Ambos usavam vermelho. Haddad deu uma risadinha.

Na conversa, o cearense de Pinda não enfrentou o petista, que até agradeceu a resposta: “Ciro, eu concordo com as suas ideias, são muito boas para o agronegócio, mas eu faria uma proposta adicional”. Na tréplica, o máximo que Ciro conseguiu dizer foi: “tenho que dizer a você que, apesar de ter colaborado, enfim, o PT teve esses 14 anos no poder e não teve essa audácia de fazer. Não é que não tenha feito coisas boas, fez, mas também perdeu a condição política de reunir a população brasileira”. O problema, portanto, era o distante PT, e não o Haddad que estava à sua frente.

No quarto bloco, Haddad foi o primeiro a perguntar. Podia escolher qualquer um. Escolheu, quem diria, Ciro Gomes. Os dois ex-ministros de Lula trocaram figurinhas amigavelmente sobre a reforma da Previdência.

Haddad levantou: “Ciro, tramitou e tramita ainda no Congresso Nacional uma proposta de reforma da Previdência que, na minha opinião, é nefasta para o país, porque ela não diferencia os brasileiros (…)”.

Para seu ex-colega cortar: “A proposta que Michel Temer fez, e que ainda está aí engatilhada, esperando que a população brasileira tome uma decisão errada nessa noite – eu peço a Deus que abençoe essa grande nação para que a gente ache o caminho correto – é uma aberração”.

E Haddad arrematar, usando a primeira pessoa do plural: “Olha, concordando com as premissas do seu raciocínio, NÓS temos uma ideia”.

Apenas nas considerações finais o pedetista de fato enfrentou alguma razão para votar em Haddad. Não pelo petista ser o menos qualificado, mas por Ciro cumprir o objetivo comum de derrotar Bolsonaro:

“O que está posto aí pelas pesquisas é um empate entre Haddad e Bolsonaro (…) Ganho do Haddad e do Bolsonaro no segundo turno com grande folga, mas preciso do seu voto no primeiro turno (…)”.

Ciro pareceu ter menos vontade de ganhar do que sua militância.

 

 

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Publicado por
Cedê Silva