A ADMINISTRAÇÃO Bolsonaro optou por uma política externa com fortes tons partidários. Entre os vários indícios estão a aproximação com o estrategista Steve Bannon e o uso do boné ‘Trump 2020’ pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), agora presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Presente às viagens do Presidente a Davos e agora a Washington, o deputado virou uma espécie de chanceler de facto.
Ou seja, a aproximação que se busca não é com os Estados Unidos, e sim com o Partido Republicano – ou uma ala dele.
O pesquisador Carlos Gustavo Poggio publicou neste domingo (17) em O Globo um artigo em que, por outro caminho, mostra as limitações dessa estatégia. Falando sobre a estratégia mexicana na negociação do NAFTA, em 1990, escreveu:
“(…) A segunda, e fundamental, atitude do governo mexicano foi a abertura de um escritório em Washington dedicado exclusivamente à condução das negociações nos Estados Unidos, e que tinha como objetivo mensurar continuamente o clima político e a possibilidade de um acordo no Congresso, mapeando a posição de cada congressista e identificando que ajustes nos termos do tratado tenderiam a aumentar as chances de aprovação (…) se o governo brasileiro quer de fato estreitar as relações com os Estados Unidos deveria fazê-lo não apenas com o presidente, mas sim com as diversas instituições da sociedade americana“.
Donald Trump pode chefiar o Poder Executivo, mas não tem maioria na Câmara dos Deputados, presidida pela democrata Nancy Pelosi. Além disso, é possível que ele perca a reeleição em 2020. Nesse caso, Bolsonaro passaria a segunda metade de seu mandato tendo como interlocutor alguém não muito fã de Steve Bannon.
Mesmo que isso não aconteça, a política externa de Bolsonaro & Filho tem planos para dialogar com os democratas? Como pretende fazer para que os próximos acordos bilaterais passem pela Câmara?
Pelo que mostraram até agora, a estratégia da diplomacia partidária é apenas posar para fotos e ‘mitar’ para os convertidos.
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