Preparado pelo COAF, o Relatório de Inteligência Financeira sobre as “movimentações atípicas” do ex-motorista de Flávio Bolsonaro virou notícia em 6 de dezembro de 2018, quando Jair Bolsonaro já tocava o governo de transição em Brasília. O RIF detalha as movimentações financeiras de Fabrício Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Iniciando-se pela de número 325, o trecho do documento publicado na imprensa traz apenas 7 de 422 páginas. Mas o rodapé registra data e horário bastante específicos: “09/01/2018 às 17:41:36“.
Noutro RIF que viraria notícia, há marcação semelhante. Se o resumo das operações financeiras de Chiquinho da Mangueira data de 22 de setembro de 2018, o rodapé apresenta um registro de dois dias depois, às 10h47.
Questionado por A Agência sobre essa diferença de data nos RIFs do COAF, o Ministério da Justiça respondeu que o órgão “não se pronuncia sobre caso específico“. No entanto, havia a possibilidade de aparecerem datas distintas no documento, “sendo uma referente à finalização do relatório e sua disponibilização no sistema, e a outra, referente ao acesso, pelo destinatário/solicitante da informação“.
De onde se conclui que a movimentação atípica do caso que mais estrago tem feito na reputação de Bolsonaro era conhecida muito antes da eleição que fez dele presidente da República. Nessa época, a depender do cenário, instituto e margem do erro, o presidenciável disputava do 2º ao 5º lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Quando pela primeira vez abordou o assunto, disse o vencedor da disputa: “Não sou contra vazamento. Tem que vazar tudo mesmo. Nem devia ter nada reservado.” Se a vontade do capitão tivesse sido feita em tempo hábil, o eleitor poderia ter votado já ciente de todas as suspeitas noticiadas no final do ano, e talvez o Brasil entrasse 2019 aos cuidados de outro grupo político.
Mas algo assim ficará mais difícil de ocorrer. Pois, na inauguração do mandato, por decreto, o presidente da República proibiu o COAF de divulgar informações sigilosas mesmo aos órgãos de origem.