NÃO É POR ACASO que o termo “eleições” vem sendo usado no plural. A depender das disputas, o eleitor será convocado a se pronunciar oito vezes sobre doze cargos – incluindo vices e suplentes – em cinco casas de esferas estaduais e federais. A mais importante, claro, é a Presidência da República. Mas, com 54 cadeiras do Senado em jogo, além dos 513 gabinetes da Câmara Federal, a montagem do Congresso não fica muito atrás. E, nessa disputa, já é possível apontar Jair Bolsonaro como alguém com vitória garantida.
Com quase três décadas de atividade parlamentar na condição de “baixo clero” – foi o termo utilizado pelo próprio presidenciável em sabatina no Roda Viva –, o ora deputado federal corre risco de ficar sem mandato, mas certamente comandará uma máquina partidária que há de incomodar qualquer governo que o desagrade. Em conjunto com o apoio multipartidário que recebe de nomes como Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Magno Malta (PR-ES), há de ter força para ser o freio de arrumação que tem sido usado como justificativa para uma atividade legislativa pouco propositiva.
Em 2014, por exemplo, só uma coligação somou em São Paulo mais de 10% dos votos, rendendo 14 cadeiras divididas por PSDB, DEM e PPS. Pesquisa da XP Investimentos encomendada ao Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas calcula em 21% a parcela do eleitorado paulista disposto a votar em Bolsonaro, o que equivaleria a 30% dos votos válidos. Se metade deste grupo se dispuser a votar em candidatos da sigla, há chance de o PSL montar no estado uma bancada de poder semelhante.
Ainda que não só perca, mas fique fora até mesmo de uma disputa presidencial no segundo turno, o nanico e inexpressivo Partido Social Liberal há de se converter em partido médio, com risco considerável de virar partido grande em decorrência da crise política enfrentada pelas maiores siglas. Isso há de ser útil, inclusive, a uma nova investida bolsonarista em 2022, quando concorreria não só com a força da Internet, mas também espaço para mandar o recado na televisão e no rádio.
A certeza de força na próxima legislatura, somada à esperança de um poder ainda maior em 2022, quando a Independência do País completará dois séculos, deveria servir de freio para a virulência da militância, que vê urgência em resolver o problema já em outubro. Mas, infelizmente, não é o que vem acontecendo, de acordo com os reclames de apoiadores como Janaina Paschoal e Hamilton Mourão.