COMO TEM SIDO comum em eleições majoritárias, os institutos de pesquisa saíram desacreditados do primeiro turno da corrida presidencial de 2014. Se acertaram na margem de erro a votação que Dilma Rousseff receberia nas urnas, erraram em 10 pontos porcentuais o resultado do adversário do segundo turno. No festival de desculpas, alegaram que o eleitor, em resposta à pesquisa da véspera, que mostrou uma virada de Aécio Neves sobre Marina Silva, migrou em peso para o tucano por ver nele alguém com mais forças para derrotar o PT.
O gráfico abaixo, com as médias de 44 pesquisas de quatro institutos distintos que atuaram na campanha, destaca o fenômeno, com Aécio em amarelo num curva final de vertiginoso crescimento.
Mas a teoria apresentada como desculpa ignora que o gráfico acima mistura cenários com votos nulos e o resultado final da urna, em que apenas votos válidos são contabilizados. Os mais de 43 milhões de brasileiros que escolheram Dilma, por exemplo, representavam pouco mais de 30% dos eleitores. Por este recorte, Aécio superou os 24 pontos, mas Marina não chegou aos 16. No gráfico abaixo, o fenômeno é destacado, com a linha roxa substituindo indecisos por abstenções no ponto final.
Em outras palavras, é como se os institutos tivessem acertado a votação que Aécio receberia, mas não percebessem que Dilma e Marina perderiam um quarto dos próprios votos no intervalo entre encontro com o pesquisador e o depósito do voto na urna.
Duas teorias explicariam o fenômeno e elas podem perfeitamente se somar: o eleitor tucano não é exatamente tucano, mas antipetista, e precisou se decidir entre mais opções mesmo na reta final, fazendo com que um volume maior de indecisos cobrisse a abstenção do eleitorado de Aécio; a abstenção não se divide igualmente, prejudicando muito mais as classes mais pobres, de onde Dilma e Marina mais recebem votos, mas não chegando a fazer grandes estragos na classe média, historicamente mais simpática ao PSDB.
A abstenção é um fenômeno a ser melhor compreendido pelos institutos. Este texto especula que, no Brasil, responderia mais a diferenças sociais. Mas, no Reino Unido, já se sabe que tem um peso etário muito forte, o que explica a virada em benefício do Brexit em 2016. Enquanto 90% dos eleitores mais velhos compareceram à votação, apenas 64% dos mais jovens, que mais se empolgavam com a ideia de permanecerem na União Europeia, fizeram o mesmo.